Os coveiros da TV Cultura
Quem destruiu a TV Cultura foram os governadores que há 16 anos coronelizam São Paulo desrespeitando os princípios públicos da emissora estatal.
Leia também post de Daniel Castro em seu blog.
Além de desmontar a estrutura de produção da TV Cultura de São Paulo, o governo demo-tucano dá mais um passo rumo à fúria privatizante-neoliberal e sucumbe ao lobby das emissoras comerciais, liberando propaganda na programação infantil, voltada a manipular crianças para fazê-las azucrinar os pais com teimosias, birras, explosões de ira, para comprar produtos de marcas anunciadas na TV.
A TV Cultura não exibia propaganda durante a programação infantil, desde 2008, por iniciativa do então presidente da Fundação Padre Anchieta, Paulo Markun.
A partir de 2011 voltará a exibir. A decisão foi admitida durante o último Fórum de Marketing Legal, promovido pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), por Flávia Cutolo, gerente de marketing da TV Cultura.
Segundo a tucana, aquelas crianças que pressionam os pais no supermercado para comprar um biscoito mais caro anunciado na televisão, ou um caderno escolar de grife infantil, "tem percepção crítica para discernir publicidade".
Vários estudos, em diversos países do mundo (inclusive aqui no Brasil) apontam o contrário: que a publicidade dirigida à crianças não é ética ("como roubar um doce de uma criança"), é deseducativa e forma futuros cidadãos não críticos ao sistema e dóceis aos apelos do consumismo globalizado.
Países como Suécia, Noruega, Itália, Irlanda, Grécia, Dinamarca e Bélgica, já proíbem a publicidade direcionada para crianças, mesmo na TV comercial. Algumas dessas nações proíbem até mesmo toda e qualquer publicidade durante a programação infantil.
Até nos EUA há severas críticas
No documentário “The corpotation” (boicotado pelas tvs dos EUA e daqui), Suzan Linn, psicóloga da Universidade de Harvard (EUA), denuncia que a manipulação infantil para comprar produtos ficou mais sofisticada a partir de 1998, quando duas grandes corporações (WIMCC e a LRW[1]) conduziram um estudo sobre a teimosia infantil. “Este estudo não era para ajudar os pais a lidar com a teimosia. Era para ajudar as corporações ensinar [ou ‘doutrinar’] as crianças para teimar por seus produtos de maneira mais eficiente”, declara Linn.
Ou seja, qualquer família de hoje não consegue enfrentar o bombardeio de mensagens televisivas, alimentado por 12 bilhões de dólares por ano pelas empresas norte-americanas, para manipular o comportamento dos filhos por meio da publicidade e do marketing das grandes empresas.
Algumas organizações não governamentais (ONGs) sediadas nos EUA fazem campanha contra corporações (multinacionais ou transnacionais) que usam as crianças e adolescentes para promover produtos por meio da pressão ou azucrinação (“nagging”) dos familiares.
Debate no Brasil
Organizações não-governamentais, o Congresso, o Ministério Público e o governo brasileiro, hoje, discutem restrições sobre a propaganda de produtos para crianças. Apelos publicitários considerados imorais do tipo “peça para a sua mãe comprar isso" ou aqueles que passam a idéia de que a criança ficará “mais forte”, “legal”, “inteligente”, “feliz”, devem sofrer restrições.
Mais do que debater se é ético fazer publicidade para induzir as crianças e adolescentes a pressionar os pais comprar um objeto, que promete preencher uma falsa necessidade criada pela mídia, é preciso se criar mecanismos legais para regrar a publicidade, a propaganda e o marketing, principalmente os direcionados para crianças e adolescentes. É legítimo a publicidade tirar a autoridade dos pais, comandando os filhos a azucriná-los a comprarem os produtos de empresas cujo objetivo é sempre a maximização dos seus lucros?
Do outro lado, na defensiva, as tvs e empresas de mídia, no Brasil, organizam-se para boicotar qualquer iniciativa que regule a propaganda visando influenciar as crianças. Evocando as eternas palavras mágicas dos barões da mídia como “direito” e “liberdade”, o lobby das empresas ligadas a mídia entende que não é imoral usar crianças como se fossem objetos para vender este ou aquele produto ou serviço e, portanto, ignoram o exemplo dos países de primeiro mundo e das pesquisas científicas que denunciam a imoralidade e os malefícios deste tipo de publicidade.
Programas infantis continuam influenciando o comportamento das crianças para consumir produtos e influenciando um modo de vida precoce das crianças no vestir, andar, comer, falar.
A maioria desses programas televisivos não prima por uma boa orientação educativa, e são consumidos nos lares sem acompanhamento dos pais ou responsáveis. Pior é saber que os pais de hoje estão sendo levados à loucura para comprar produtos de marca copiados da tv ou dos amigos influenciados por ela; eles ficam desesperados porque não tem condições de dar os produtos que tais programas induzem as crianças a azucrinar os pais para comprar. Brigas em famílias acontecem por causa destas pressões. Os pais sofrem dobrado, porque sua autoridade foi passada pra trás e culpado porque não sabe como preencher todas as necessidades criadas artificialmente.
(Partes do artigo de Raymundo de Lima, na Revista Espaço Acadêmico)
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