sábado, 8 de janeiro de 2011

Derradeiros momentos de Lula na Presidência da República - Discurso em Pernambuco em 28/12/2010

Abaixo, segue vídeo com a derradeira visita do Presidente Lula a seu estado de origem.
Após o vídeo tem-se o texto publicado no Blog Meu Pernambuco e em seguida a transcrição integral do discurso de Lula.

Lula em Pernambuco


Em despedida em Pernambuco, Lula chora ao lembrar carreira


Lula emocionado na despedida em Pernambuco. 28/12/2010




DESPEDIDA DO PRESIDENTE LULA EM PERNAMBUCO
Texto publicado originalmente do Blog Meu Pernambuco

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou nesta terça-feira (28) ao relembrar de sua trajetória política durante discurso em seu estado natal, Pernambuco. Com um discurso de improviso, Lula lembrou das derrotas nas eleições para a Presidência em 1989, 1994 e 1998. Foi o último discurso dele no estado na condição de presidente.


"Eu não quero chorar mais do que já chorei. Vocês sabem que uma coisa que eu admiro no povo é que o povo chora para fora, o povo ‘cafunga’, lacrimeja, e político chora para dentro, fica com vergonha, e fica engolindo lágrimas, quando deveria colocar lágrimas para fora", disse o presidente.

Segundo ele, só o "dedo de Deus" explica o fato de um retirante do interior de Pernambuco ter se tornado presidente da República. "Eu sou agradecido a Deus em primeiro lugar, porque se não fosse o dedo de Deus não era normal que um retirante de Caetés, que saiu do sertão para fugir da fome, se transformasse em presidente da República do Brasil. Isso só pode ter o dedo de Deus".

Lula ainda lembrou que, no decorrer de suas campanhas políticas, ficou preocupado com a desconfiança do povo. "Nós não conseguimos tudo, mas nós conseguimos gostar de nós, conseguimos nos respeitar, aprendemos acreditar em nós, e quem acredita em si próprio nunca será derrotado."

"Eu lembro que um dia aqui, uma mulher falou que não ia votar em mim porque eu ia tirar tudo dela. O que eu ia tirar dessa mulher? Eu falei: 'Marisa, eu estou assustado, que eu fui num barraco de uma pessoa que não tinha nada, e ela tinha medo de mim'. E a Marisa me dizia: 'Não desiste que um dia você vai convencer', e isso aconteceu em 2002", disse.

"Tomei como decisão na falhar. Eu duvido que tenha tido um presidente da República que tenha trabalhado o tanto que eu trabalhei, que tenha viajado o tanto que eu viajei, que tenha cumprimentado as pessoas o tanto que eu cumprimentei. E não faço isso à toa porque eu quero sentir o pulsar do coração, da alma e da mente de cada mulher e de cada criança desse país. E foi com essa convicção que eu consegui governar o primeiro mandato depois de tantas coisas ruins que aconteceram e conseguimos chegar ao segundo mandato", disse.

Lula participou da cerimônia de inauguração do Memorial Luiz Gongaza, e recebeu das mãos do governador Eduardo Campos uma faixa em homenagem aos serviços prestados ao estado.

Em tom de brincadeira, Lula perguntou ao público se não poderia ser "pastor" ao terminar o mandato, no final desta semana. "Vocês não acham que eu poderia ser pastor depois de deixar a Presidência da República? Fazer sermão lá em Garanhuns?", indagou o presidente.

Em seu discurso, Lula lembrou de algumas obras realizadas no estado, como a construção da BR101. "Nem a Angela Merkel [primeira-ministra alemã] anda numa estrada tão bem tratada quanto a nossa 101", afirmou.

Também falou da obra de transposição do Rio São Francisco. "Eu nunca prometi obra. Eu sei que dom Pedro 2º queria fazer, ou 1º, uma coisa assim, mas não deixaram fazer. Pois bem, em 2012 a nossa companheira Dilma [Rousseff] vai inaugurar a transposição das águas do Rio São Francisco", afirmou.



Ao lado do governador Eduardo Campos, Lula também "homenageou" o ex-governador Miguel Arraes. "Lembro da campanha de 1989, que só tinha um governador que começou me apoiando, que foi o governador Miguel Arraes, e quem estava ao lado dele era um menino, um neto, que estava predestinado a seguir o avô", disse. Campos é neto do ex-governador, morto em 2005.

"Eu lembro no avião, eu e o doutor Arraes, que ninguém é santo, tomando uma dosezinha, e ele me disse 'faça a rodovia ligando Pernambuco ao Ceará', e depois eu perdi, e depois eu ganhei. É uma pena que o doutor Arraes não esteja aqui para ver, mas ele está lá de cima olhando', declarou.



Nós pernambucanos sentimos um orgulho danado de sermos conterrâneos do melhor presidente da historia do Brasil – Luis Inacio Lula da Silva

Nós pernambucanos somos gratos ao presidente Lula por tudo que fez nesses oito anos, não só por nosso estado, mas pelo que fez em prol de todo o país.

Nós pernambucanos estamos e sempre estaremos ao lado dessa figura iluminada que se transformou no grande estadista que é, sem perder a sua essência e principalmente sem se afastar dos seus ideais.

Nós pernambucanos apoiamos e apoiaremos a presidenta eleita Dilma Rousseff, se ela for pelo menos metade do que o presidente Lula foi no comando da nação brasileira.

Nós pernambucanos demonstramos nas urnas a nossa gratidão e a nossa confiança no presidente Lula e hoje além desse orgulho danado trazemos no peito a tristeza dessa despedida, mas confiantes no futuro, porque sabemos que existe um político que sempre estará ao lado do povo e pensando no bem do país

MAIS UMA VEZ, OBRIGADA PRESIDENTE LULA!


TRANSCRIÇÃO INTEGRAL DO DISCURSO DO PRESIDENTE

Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de ordem de início do Cais do Sertão – Memorial Luiz Gonzaga e entrega da cessão de uso gratuito de terreno para a Associação Orquestra Criança Cidadã Meninos do Coque
Recife-PE, 28 de dezembro de 2010


Meu querido companheiro Eduardo Campos, governador do estado de Pernambuco, e nossa querida companheira Renata Campos, primeira-dama do estado de Pernambuco,
Meus queridos companheiros ministros Juca Ferreira, da Cultura; e nosso companheiro Sergio Rezende, pernambucano, ministro de Ciência e Tecnologia, o melhor ministro de Ciência e Tecnologia que o Brasil já teve.
Nosso querido companheiro deputado Guilherme Uchoa, presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco,
Nosso querido companheiro João Lyra Neto, vice-governador do estado de Pernambuco,
Nossos queridos companheiros senadores eleitos Armando Monteiro Neto e Humberto Costa,
Deputados federais: nossa querida companheira, deputada mais votada do estado de Pernambuco, Ana Arraes; nosso querido companheiro Fernando Ferro; nosso querido companheiro Fernando Bezerra Filho e nosso querido companheiro Paulo Rubens Santiago.
Ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça,
Companheiro Milton Coelho, prefeito de Recife em exercício,
Nosso companheiro Múcio Magalhães, presidente da Câmara Municipal de Recife,

Aqui é importante, agora: nosso companheiro Luciano Coutinho, pernambucano, presidente do BNDES, o melhor presidente que o BNDES já teve, na história do BNDES. É importante ficar em pé, para as pessoas conhecerem que Pernambuco tem o presidente de um banco que hoje é maior do que o Banco Mundial, e que empresta mais dinheiro do que o Banco Mundial. De vez em quando, a imprensa brasileira fala muito do Banco Mundial, mas o Banco Mundial, perto do BNDES não é nada, hoje. O BNDES é muito mais importante e é dirigido por um pernambucano.

Nosso querido companheiro... Esse é um companheiro particular, porque é o nosso companheiro ministro do Tribunal de Contas da União, o nosso querido companheiro José Múcio, o nosso querido companheiro.
E outra coisa importante – prestem atenção – é importante que a Maria Fernanda se levante. Da mesma forma que o BNDES tem o presidente mais importante da história do BNDES, um pernambucano, a Caixa Econômica Federal tem a melhor presidenta que a Caixa Econômica já teve, a companheira Maria Fernanda. E não é dito por mim, é dito pelos governadores, pelos prefeitos. Eu vou contar uma história dela aqui. Eduardo, eu não conhecia a Maria Fernanda. Eu não conhecia a Maria Fernanda, quando eu precisava escolher uma pessoa para presidir a Caixa Econômica Federal. Ela estava entre a terceira e a quarta opção de escolha. Aí, entra esta senhora na minha sala e fala assim para mim: “Presidente, eu não posso aceitar esse cargo, porque eu tenho um irmão que é oposição do governo, trabalha no governo do Jarbas Vasconcelos”. Eu falei: Maria Fernanda, eu não estou convidando o seu irmão, eu estou convidando você. Eduardo, somente depois que eu falei para a Dilma: Dilma, eu encontrei a presidenta da Caixa, somente depois que ela estava escolhida é que ela me confessou que ela era uma companheira que tinha ajudado a fundar o PT aqui em Pernambuco, em 1982. Foi esse senso de responsabilidade e esse senso de honestidade que... - Ô Valença, você está aí, meu filho? Olinda presente, na ex-prefeita e no ex-vice, está aí. Então, Maria Fernanda, é motivo de orgulho para Pernambuco, dito pelos prefeitos do Brasil, ter essa mulher. Bem, não é apenas ela, não é apenas ela.

Nós temos aqui presente um outro Pernambuco “porreta”, companheiro, vice-presidente de Crédito do Banco do Brasil, presidente da Previ e presidente do Conselho da Vale do Rio Doce. O companheiro Ricardo Flores é outro pernambucano, extraordinário, que contribui com o desenvolvimento deste país e do estado de Pernambuco.

Bem, nós temos agora o nosso companheiro Fernando Bezerra Coelho, que era somente secretário, e agora vai ser ministro da Integração Nacional, indicado pelo PSB.

Bem, vocês viram que aqui eu entreguei um documento para uma criança. Essa criança é o Daniel, é o Daniel que representa aquela orquestra dos meninos da favela do Coque, que tem... olha que elegância do Daniel! Olhe, eu não vou contar a história do Daniel porque vocês já conhecem, mas o companheiro João José Rocha Targino, que é juiz, é o coordenador-geral do projeto Criança Cidadã e ele, há muito tempo, reivindicava isso. É importante a gente, aqui... Levanta, nossa companheira Alexandra, da Secretaria do Patrimônio da União, que é a companheira que conseguiu legalizar a doação de um prédio da Marinha para que a orquestra possa montar um espaço de ensaiar e de tornar essas crianças muito melhores ainda.

Quero cumprimentar também o companheiro Américo da Cunha Pereira, presidente em exercício da Associação Orquestra Criança Cidadã, que é motivo de Pernambuco e do Brasil.

Quero cumprimentar o companheiro Sérgio Gonzaga, por meio de quem cumprimento todos os familiares de Luiz Gonzaga.

Quero cumprimentar algumas pessoas que já passaram por aqui, nosso querido Daniel; mas quero cumprimentar o Antonio Marinho, aquele moleque atrevido que falou do presidente Lula; o Maciel Melo, um cantor extraordinário; quero cumprimentar o Walter Teles; e quero cumprimentar o João Paraibano pelo show espetacular que deram aqui.

Quero cumprimentar todos os artistas pernambucanos,
Quero cumprimentar o povo de Pernambuco,
Quero cumprimentar a imprensa,

E não vou ler o meu discurso hoje, porque eu quero falar um pouco com vocês.

Primeiro, vocês percebem que eu estou de faixa, eu estou de faixa aqui. Como eu vou entregar a minha faixa de presidente da República no próximo sábado para a companheira Dilma, eu vou aproveitar e dormir com esta daqui, para não esquecer da faixa de Pernambuco.

Segundo, eu vou fazer uma fala bem curta, que eu vou daqui para Fortaleza, e depois eu vou para a Bahia ainda, e eu não quero chorar mais do que já chorei. Você sabe que uma coisa que eu admiro no povo é que o povo chora para fora, o povo cafunga, lacrimeja, e político chora para dentro, fica com vergonha, e fica engolindo lágrimas, quando deveria colocar lágrimas para fora.

Eu confesso a vocês uma coisa: eu sou agradecido a Deus, em primeiro lugar, porque se não fosse o dedo de Deus, não era normal que um retirante de Caetés que fugiu para não morrer de fome se transformasse em presidente da República do Brasil. Isso só pode ter o dedo de Deus, só pode ter o dedo de Deus. Quem não acredita em Deus pode acreditar, que ele existe. Ele existe, e ele toma conta de nós. Ele não ensina o que a gente tem que fazer todo dia porque ele já deu um dom maior para nós, que é a inteligência. Agora, cada um tem responsabilidade pelo que faz, e quem faz paga pelo que fez. Então, eu sou agradecido. Vocês não acham que eu poderia ser pastor depois que eu terminar a minha Presidência? Fazer sermão lá em Garanhuns, ô Ferro.

Bem, a segunda coisa que eu queria dizer para vocês: eu sou agradecido a Deus pelo carinho que vocês tiveram comigo ao longo da minha trajetória política. É importante vocês lembrarem que eu saí de Pernambuco no dia 13 de dezembro de 1952, para ir para São Paulo, e só retornei a Pernambuco em 1979, para conhecer a terra em que eu nasci, que eu pensava que era Garanhuns e já tinha virado Caetés, porque já tinha virado cidade. E fiquei decepcionado porque eu tinha a imagem de um pé de mulungu maior do que esse comício e, quando eu cheguei lá, era um bicho mais fino do que aquele microfone; e porque eu tinha um açude na frente da minha casa, que eu pensei que era um Oceano Atlântico e, quando eu cheguei lá, não passava de uma cacimba.

Pois bem, eu aprendi com vocês, em 1989, quando fui candidato a presidente da República pela primeira vez, que não era possível o Brasil dar certo se ele não tivesse um presidente da República que conhecesse o Brasil na sua totalidade, que conhecesse o Brasil do Rio Grande do Sul, mas conhecesse o Brasil de Pernambuco, o Brasil de Roraima, o Brasil do Amazonas, o Brasil do Amapá, o Brasil do Ceará, o Brasil de Goiás, o Brasil do Mato Grosso, que conhecesse os negros deste país, que conhecesse os índios deste país, que conhecesse os catadores de papéis, as pessoas que moram na rua, que conhecesse as crianças que moram na rua. Era preciso que o presidente tivesse um olhar total do seu país, para conhecer o seu povo e poder governar distribuindo possibilidades para que todos tivessem condições de participar do desenvolvimento deste país.

Foi a partir, companheiro Eduardo Campos, da descoberta das eleições de [19]89, que eu descobri que era falsa a disputa eleitoral, que um presidente da República pegar um avião em São Paulo, descer no aeroporto de Recife, subir em um palanque, voltar para o aeroporto e voltar para São Paulo não lhe permitia conhecer o povo pernambucano. Era preciso que ele conhecesse um pouco mais. Era preciso que ele entrasse em um bar, que abrisse a porta do carro, que abraçasse as pessoas, que beijasse as pessoas, que sentisse o olhar de cada ser humano. Afinal de contas, não há possibilidade de o ser humano interagir se não houver um toque de mão, se não houver um abraço, se não houver um beijo, um carinho, um olhar, olho no olho. Foi a partir daí que eu resolvi fazer as Caravanas da Cidadania. E comecei fazendo a primeira caravana percorrendo o trajeto que a minha mãe percorreu com oito filhos: saindo de Caetés, da bodega do Tozinho - que ainda hoje existe a casinha velha -, saindo até a cidade de Santos, em São Paulo, onde eu cheguei, parando em cada cidade, conversando com as pessoas. Depois eu percorri 91 mil quilômetros de carro, de trem, de ônibus e de barco para conhecer a cara, o jeito, o contar da piada, o contar da graça, o cantar do povo pernambucano, o sofrimento do povo brasileiro, e isso me deu uma dimensão do Brasil que eu queria governar. Eu tentava traduzir isso, Eduardo, dizendo o seguinte: o marido, ele pensa que conhece a casa, mas quando a mulher não está em casa, se ele tivesse que fazer um café, ele não sabe onde está o pó, não sabe onde está o açúcar, não sabe onde está o bule, não sabe onde está o coador. Eu traduzia para que o povo entendesse, com mais facilidade, aquilo que era a arte do que eu queria fazer se ganhasse as eleições para presidir este país.

Finalmente, eu perdi em [19]89, eu perdi em [19]94, eu perdi em [19]98, e eu perdi porque uma parte do povo pobre deste país, que deveria ter votado em mim, não votava. Não votava com razão, não votava com medo, não votava porque ele pensava: “Como é que eu que não sei nada e vou votar em um cara que não sabe nada? Como é que eu vou votar em um cara que só tem o diploma primário, que é um metalúrgico, um sindicalista?”.

Eu lembro uma vez aqui, em Casa Amarela, visitando um barraco, a mulher falou: “Eu não vou votar em você, Lula, porque você vai tomar tudo o que eu tenho”. Eu olhava para o barraquinho dela, e eu falava: Pelo amor de Deus, o que eu vou tomar dessa mulher? Ela não tem nada! Como é que ela tem medo de mim? Eu cheguei em casa, Eduardo, contei para a Marisa, falei: Marisa, eu estou assustado, porque eu fui em um barraco de uma pessoa que não tinha nada, e essa pessoa, que eu queria ajudar, tem medo de mim, tem medo. Ela não confia no que eu falo, e ela tem medo que eu vá tomar as coisas dela. E a Marisa falava: “Lula, não desanima, continua, que um dia você vai convencer”. Isso aconteceu em 2002, aconteceu.

Depois, eu tinha uma outra dúvida. Eu ganhei as eleições. E aí, eu comecei a ficar preocupado. Qual era a preocupação? Será que eu tenho condições de governar este país? Será que eu vou conseguir dar conta do recado? Tinha vezes que eu me deitava, com a Marisa, lá no Palácio da Alvorada, eu falava: Marisa, será que é verdade que a gente está aqui? Nós estamos dormindo neste quarto em que dormiram tantos presidentes, nesta cama, Marisa, será que é verdade? E aí, aconteceu quase uma coisa sagrada para mim: eu descobri que eu tinha que provar a mim mesmo que eu tinha competência, eu tinha que provar a mim mesmo que eu não podia falhar, porque se eu falhasse, não era o Lula que tinha falhado; porque, se eu falhasse sozinho, não tinha importância nenhuma, acabou o Lula, vem outro; é que, se eu falhasse, quem falhava seria a classe trabalhadora, seriam os pobres deste país que iriam provar que não tinham competência para governar. E aí, tomei como decisão não falhar, e trabalhei.

Eu duvido, duvido que tenha um presidente da República deste país que tenha trabalhado o tanto que eu trabalhei, que tenha viajado o tanto que eu viajei, que tenha cumprimentado as pessoas o tanto que eu cumprimentei. E não faço isso à toa, faço isso porque eu quero sentir o pulsar do coração, da alma e da mente de cada mulher e de cada criança neste país. E foi com essa convicção que eu consegui governar no primeiro mandato, depois de tantas coisas ruins que aconteceram, e chegamos ao segundo mandato. Aí, o Brasil começou a melhorar.

Eu quero aproveitar para agradecer a vocês, de coração, a eleição deste companheiro Eduardo Campos e a reeleição dele agora, porque a gente não acha diamante em qualquer lugar, a gente não acha gente boa em qualquer lugar e a gente não acha companheiro em qualquer lugar.

Eu lembro da campanha de [19]89. Só teve um governador do Brasil que começou me apoiando, que era o companheiro dr. Miguel Arraes, aqui em Pernambuco, depois o companheiro Brizola. E quem estava ao lado do Arraes não era um governador, era um menino, o neto; o neto, quem sabe, não o predileto, mas o neto que estava predestinado a substituir o avô.

Eu lembro, Eduardo, de uma viagem que nós fizemos ao Cariri. Eu lembro que no avião, eu e o dr. Arraes, que ninguém também santo, tomando uma dosezinha. Até porque a gente tinha medo de estar em um avião pequenininho: toc, toc, toc, toc. E o Arraes falou para mim: “Ô Lula, ô Lula, se você ganhar as eleições, faça a ferrovia ligando Pernambuco ao Ceará”. Eu falei: Arraes, se eu ganhar, fique tranquilo. Eu não ganhei. Depois eu perdi em [19]94, depois eu perdi em [19]98, e Arraes só pôde ver dois anos do meu primeiro mandato, morreu.

É uma pena que o doutor Arraes não esteja conosco, ele está lá de cima olhando, e ele está vendo o que está acontecendo no estado de Pernambuco, o que está acontecendo no Nordeste. E não é apenas obra do Eduardo ou minha, é quase como se fosse uma benção de Deus.

Nós estamos fazendo algumas obras, Eduardo, algumas obras. A transposição das águas do rio São Francisco, eu fui o único presidente que nunca prometeu fazê-la, todo mundo prometia e eu não prometi. Eu sei que dom Pedro II queria fazer em 1847 ou dom Pedro I, uma coisa assim, não deixaram fazer. Pois bem, em 2012 a nossa companheira Dilma vai inaugurar a transposição das águas do rio São Francisco, que vai ser concluída por um ministro pernambucano, agora, o nosso companheiro Fernando Coelho, que vai concluir, levando água para o Ceará, para Pernambuco, para a Paraíba e para o Rio Grande do Norte, atendendo o maior semiárido habitado do mundo e atendendo a 12 milhões de famílias nordestinas que precisam de água. Água para beber, água para a cabritinha, para o bodinho, para a vaquinha, água para ninguém ficar carregando pote na cabeça, como eu carreguei quando eu tinha sete anos de idade. Somente quem não conhece o que é carregar uma lata d’água, pegar água barrenta no açude, disputando a água com merda de vaca, de cavalo, de cabrito, com caramujo, levando para casa, deixando a água sentar em um pote e tirar com uma latinha, para beber, era contra a transposição do rio São Francisco. Graças a Deus, ela vai sair porque a maioria do povo brasileiro assim desejou. E aqueles que eram contra, que tomam água Perrier gelada, continuem bebendo, que eu não quero tirar, mas me permitam levar um pouquinho de água tratada para o povo pobre deste Nordeste brasileiro.

A gente poderia estar aqui inaugurando a estação de tratamento de Pirapama. Eu lembro, Eduardo – você, acho que não era nem nascido – eu vim aqui em 1979, a convite da Cristina Tavares, a convite do Marcos Freire, a convite até do Jarbas Vasconcelos, em 1979. Eu vim aqui, eu fui a Quipapá, eu fui a Lajedo, eu fui a Garanhuns, eu fui a Caetés, e eu fiquei hospedado aqui no Hotel do Sol, que era da família da Cristina Tavares, e no tempo em que eu estava aí, eu tive um problema, que faltava água em Recife. Agora, precisou esse refugiado de Caetés, que carregou água na cabeça, junto com o governador Eduardo Campos, para fazer Pirapama, para nunca mais faltar água em Recife para as pessoas tomarem banho, beberem e lavarem sua roupa.

Companheiros e companheiras, eu não vou falar da Fiat, porque já é um luxo. Já é um luxo a gente ter aqui, no porto de Suape, uma indústria automobilística. Se prepare, peão, você pode trabalhar lá, se prepare! Se você fizer como o Lula, você não só vai trabalhar, como pode ser presidente! É só se preparar, perseverar e trabalhar, você pode chegar lá.

Veja, então nós temos... Veja que coisa interessante: nós temos aqui em Pernambuco uma refinaria, que eu passei por cima hoje, está uma maravilha aquilo; Armando, está um colosso; Humberto, aquilo tem que sobrevoar de helicóptero, para ver a quantidade de máquinas trabalhando, de gente trabalhando. Nós temos uma Transnordestina gerando, neste momento, 11,3 mil empregos. Nós temos o Canal de São Francisco, que eu fui visitar agora um túnel de 15 quilômetros, que a água vai passar por baixo da terra, para encher todos os açudes do semiárido nordestino. Nós temos a refinaria do Ceará, nós temos a refinaria do Maranhão, nós temos a refinaria do Rio Grande do Norte. Nós temos a BR-101, que está asfaltada, que vocês já viram. Nem a Alemanha, nem a Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, anda em uma estrada tão bem tratada como a nossa BR-101. E nós temos, nós temos o povo Nordestino feliz.

Eu sei que nós não fizemos tudo e eu sei que não é possível fazer tudo em oito anos. Nós não podemos fazer... Aqui nesta terra, Eduardo, você sabe, a elite de Pernambuco, na guerra de Guararapes, na Confederação do Equador, e na independência feita em 1817, a elite não deixava nem índio, nem negro participar. Qual era o medo da elite? “É que se a gente deixa negro e índio participar, eles vão aprender a lutar e depois vão querer lutar contra a gente. Então, vamos deixar de fora”. Nós não precisamos de guerra. Nós apenas precisamos de democracia e liberdade para a gente chegar à Presidência da República, ao governo do estado e mudar a regra desse jogo.

Eu queria terminar dizendo para vocês o seguinte: olhem a cara deste menino. Este menino, este menino, ele mora com o avô e com a avó. Este menino dormia – não sei se já mudou – ele dormia numa cama em que, dentro do quarto, passava um esgoto a céu aberto. Este menino era um menino daqueles que tinham nascido para não dar certo, para morrer antes do tempo. Graças a Deus, apareceu um juiz, apareceram maestros, apareceu gente que resolveu criar uma orquestra, de pessoas que nasceram apenas para tocar pandeiro, pessoas que nasceram para tomar cachaça em um bar e, de repente, percebem que um menino como este pode tocar violino como qualquer violinista alemão, francês, inglês, de qualquer país do mundo. Ele precisava apenas de uma oportunidade, ele precisava apenas de autoestima.

E foi isso que nós conseguimos dar ao povo brasileiro. Nós não conseguimos tudo, mas nós conseguimos gostar de nós, nós conseguimos nos respeitar, nós conseguimos gostar da bandeira do Brasil, a gostar da bandeira de Pernambuco, a gostar da bandeira de Recife. Nós aprendemos a acreditar em nós. E quem acredita em si próprio jamais será derrotado.

Por isso, meus queridos e queridas companheiras, do fundo do meu coração, eu não tenho palavras, não tenho palavras para agradecer o carinho que vocês dedicaram a mim durante todo esse tempo que eu fiz política no estado de Pernambuco.

Quero agradecer a parceria que eu fiz, quero agradecer a parceria que eu fiz com este companheiro aqui. Este companheiro é um mestre, é um menino que ainda terá muito futuro neste país. Eu tenho certeza de que ele será muito mais verdadeiro se ele continuar trabalhando com vocês, como ele trabalhou até agora.

Portanto, Eduardo, eu quero de público, aqui, no meu último ato público em Pernambuco como presidente da República, agradecer a você pela lealdade, pelo companheirismo e pela parceria que nós conseguimos construir.

Quero agradecer... Eu estou vendo ali, eu estou vendo ali, cadê Ariano Suassuna? Ariano? Levante a mão, Ariano Suassuna, um abraço, querido, um grande abraço. É uma pena que as pessoas não tenham enxergado o que você representa para o Brasil, e deixaram você em um palanque à minha direita, quando você deveria estar à minha esquerda, ou aqui do meu lado, porque é isso que você representa para o Brasil.
Obrigado, Daniel, que Deus te abençoe.

Gente, a palavra de ordem é a seguinte: apoiar a companheira Dilma, apoiar o companheiro Eduardo, trabalhar, porque ela vai fazer por vocês mais e vai fazer melhor. Ela será a parceira de Pernambuco, podem ter certeza disso. Ela conhece o Brasil, e eu tenho certeza de que ela, junto com o Eduardo, irá fazer muito mais. E Pernambuco vai crescer, e Pernambuco vai dizer ao mundo inteiro que Pernambuco quer participar definitivamente do desenvolvimento deste país.

Eu, sinceramente, deixo apenas a Presidência, mas não pensem que vocês vão se livrar de mim, porque eu estarei pelas ruas deste país, lutando e trabalhando para que a gente consiga melhorar a vida do povo brasileiro.

Um abraço, gente, e até outro dia, se Deus quiser. Feliz Ano Novo para todo o povo brasileiro e para o povo de Pernambuco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário