Clip de cenas retiradas do documentário Linha de Montagem (1982), o filme todo tem 90 minutos.
São três clips, totalizando 28 minutos.
São três clips, totalizando 28 minutos.
Documentário Linha de Montagem é relançado após 25 anos.
Em 1979, a greve dos metalúrgicos interrompe a produção das fábricas do ABC, na Grande São Paulo. A intervenção do Governo Federal tenta derrubar o movimento, mas em 1980 outra greve surge. A repressão policial é a alternativa encontrada pelo Governo Militar para dizimar a greve. Os diretores do sindicato são presos e processados. Hoje, algumas dessas pessoas ocupam cargos importantes no Governo, inclusive o da Presidência da República.
Essa é a história contada no documentário Linha de Montagem, do cineasta Renato Tapajós, produzido em 79/80, pela produtora Tapiri Cinematográfica, e lançado nos cinemas em 1983. O longa-metragem foi restaurado e será relançado em salas de cinema e DVD 25 após o lançamento original.
Inicialmente filmado em 16mm, o filme recebeu verba da Petrobrás e passou por um processo de restauração digital, que resultou em novas cópias em 35mm.
Segundo Tapajós, o documentário retrata um período importante na história do país. "O filme mostra mais do que a transição da ditadura para a democracia. Mostra, sobretudo, o surgimento de forças e personagens que iriam ser determinantes pelas décadas seguintes", diz o diretor.
E ainda completa: "o quê nasceu em São Bernardo em 79/80 chegou a Brasília nas eleições de 2002. O filme flagra esse nascimento, registra o momento em que as novas forças estavam sendo criadas".
O diretor está negociando com distribuidoras o lançamento em salas de cinema. Um lote promocional de DVDs com edição limitada já está a venda.
O DVD possui extras composto por entrevista com Tapajós, além de um bate-papo entre o diretor, o diretor de fotografia Zetas Malzoni e o montador Roberto Gervitz, um especial sobre o processo de restauração e ainda um entrevista com o Presidente Lula.
Ficha técnica do filme
Linha de Montagem
Gênero: documentário
Formato: 35 mm
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 1979/1980
Ano do lançamento original: 1983
Ano de relançamento: 2008
Direção: Renato Tapajós
Direção de fotografia e Câmera: Zetas Malzoni
Música: Chico Buarque de Hollanda
Montagem: Roberto Gervitz
Narração: Othon Bastos
Os comentários logo abaixo são de Rafael Henrique. É o texto integral e pode ser lido em http://rzerbetto.multiply.com/journal/item/19/19
"Ontem, 3 de julho, tive o prazer de assistir, no Cine Jaraguá, o (re)lançamento do filme Linha de Montagem, de Renato Tapajós. Tal filme, considerado um dos mais importantes documentários brasileiros, retrata os movimentos grevistas de 1979 e 1980 nas cidades do ABC. Trata-se do retrato de um momento importantíssimo da nossa história, quando os trabalhadores começaram a desenvolver uma consciência da necessidade de lutar por melhores condições de trabalho e de vida.
Assim, como era de se esperar, diversos grevistas demonstram não saber exatamente o porquê de fazer greve, mas decidem aderir à massa. Outros trabalhadores, mais esclarecidos, tinham, de fato, consciência de seu papel e da necessidade de mobilização. As imagens dos trabalhadores em serviço evidenciam a precariedade das condições de trabalho que os metalúrgicos do ABC tinham naquela época, nos permitem estabelecer um paralelo com a atual situação do trabalhador brasileiro e chegar à conclusão de que houve grande melhora, não apenas com relação aos direitos trabalhistas, mas principalmente com relação à própria conscientização do trabalhador de que o empregador precisa tanto de seus serviços quanto ele precisa de seu emprego.
Ou seja: no Brasil de Vargas, que começava a se industrializar, os operários se submetiam aos interesses de seus patrões por terem medo de perderem seus empregos: é muito fácil demitir um funcionário e contratar outro no lugar; o movimento retratado em Linha de Montagem mostra o momento em que estes operários começaram a perceber que se todos parassem de trabalhar, a indústria pararia também e os capitalistas não teriam como repor toda a mão-de-obra de uma vez; o operário brasileiro descobria, dessa forma, o que seus colegas europeus e americanos já haviam descoberto há muito tempo: a união dos trabalhadores permite a igualdade de poder entre patrões e empregados no momento de negociar melhores condições de trabalho e de vida.
Mas, obviamente, não bastaria copiar os movimentos trabalhistas estrangeiros: as particularidades culturais do povo brasileiro, bem como o regime político ditatorial da época, necessitavam de uma fórmula genuinamente brasileira de mobilização: assim, sendo o Brasil um país onde a individualidade do europeu é substituída pelos valores familiares, bem como pela lealdade aos amigos, nota-se a existência de um grande sentimento de amizade (fraternidade talvez seja um termo mais apropriado) entre os trabalhadores e a preocupação destes com suas próprias necessidades ficam em segundo plano, pois suas preocupações fundamentais são oferecer melhores condições de vidas para suas famílias e dar bons exemplos para seus filhos. Assim, há registros de grevistas refletindo sobre seus atos e se recusando, mesmo intimidados pela polícia, a voltar ao trabalho, pois não querem trair seus companheiros e dar maus exemplos para seus filhos.
O presidente Lula, na época líder sindical, ocupa papel central nesta mobilização e demonstra ter grande capacidade para articular tal movimento, bem como para organizá-lo de tal maneira que, mesmo com medidas enérgicas dos interventores, permaneça inabalável. A situação econômica do país na época, as demissões nas fábricas e a precariedade das condições de trabalho criaram um movimento articulado pelos próprios trabalhadores.
Lula não era, ao contrário do que muitos pensam, o criador e/ou o agitador das greves: estas foram criadas pela própria história, que necessitava daquilo naquele momento. Prova disso são as tentativas desesperadas de conter as manifestações: primeiro, prenderam o Lula, acreditando que, dessa forma, desarticulariam o movimento. Não funcionou: os trabalhadores faziam greve não porque Lula pediu, mas porque eles mesmos haviam decidido, em assembléia, que tal coisa era necessária; assim, os grevistas lutavam por si mesmos e pelas pessoas que estimavam.
Em segundo lugar, vendo que a prisão de Lula não foi suficiente para desarticular o movimento, a poicia ocupou os lugares onde os trabalhadores podiam se reunir em assembléia. Não adiantou: o movimento, outrora centralizado, passou a se articular nos bairros, de forma que as tentativas de conter as manifestações ficaram ainda mais difíceis. Xeque-mate!
Tal documentário contribui para desmistificar aquela imagem do Lula que foi construída pelas classes dominantes: o Lula real, mostrado no filme, é um ser humano como nós, que não tem aquela capacidade sobre-humana de organizar sozinho todo este movimento, como alguns afirmam. Lula apenas age como mediador entre os trabalhadores e a direção da empresa, cumprindo seu papel de líder sindical, sendo as decisões feitas em assembléias.
No final do filme, há um depoimento de Lula explicando porque criou o PT, primeiro partido político brasileiro nascido no meio das ruas, do povo, e não dentro de mansões, como aconteceu com os partidos anteriores a ele.
A luta dos trabalhadores sai de dentro das fábricas para o congresso nacional, e, dessa forma, o trabalhador passa, finalmente, a ser corretamente protegido pelo Estado contra abusos de seus empregadores, algo que Jango começou, timidamente, na década de 60, mas não conseguiu porque, na época, as elites consideravam direitos trabalhistas "coisa de comunista" e as forças armadas estavam prontas para defender os interesses das classes dominantes, enquanto as classes dominadas estavam prontas para obedecer, pois não tinham capacidade de se articularem para sua própria defesa.
Após o filme, houve um coquetel, durante o qual pude ouvir o próprio Renato Tapajós contar detalhes sobre sua produção: os grevistas, ao perceberem que diante das câmeras a polícia era menos violenta, sempre o chamavam para cobrir as manifestações, de modo que ele conseguiu obter imagens excelentes para o documentário, ao mesmo tempo em que os manifestantes tinham mais segurança.
Linha de Montagem é um material de grande importância histórica para o Brasil que estava embolorando. Felizmente, foi recuperado e agora será relançado em DVD e no circuito comercial de cinema. Seu lançamento, em 1982, não foi autorizado pela censura e sua primeira exibição, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, foi interrompida por agentes da PF, que desejavam apreender o filme, mas não conseguiram porque, enquanto os operários barravam a polícia na entrada do prédio, os rolos eram levados embora pelos fundos do salão."
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