Por: Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil
Foz do Iguaçu – A união dos países sul-americanos foi destacada na noite da quinta-feira (16) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no discurso que fez na cerimônia de encerramento da reunião do Mercosul, na cidade de Foz do Iguaçu.
O evento marcou o encerramento da agenda internacional do presidente, que passa o cargo para Dilma Rousseff no dia 1º de janeiro. O Mercosul passa agora a ser presidido pelo presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
A questão social foi o principal tema da última reunião de Lula no comando do Mercosul. De acordo com Lula, os países da América do Sul só começaram a aumentar suas conquistas e a vencer os obstáculos quando "tiveram coragem de dizer que queriam ser donos de suas decisões" e quando pararam de disputar para ver qual país "era mais amigo dos Estados Unidos".
Essa luta, segundo Lula, começou com os sectários, os esquerdistas, os sindicalistas e os sem-terra, que gritavam que "não era possível a gente se subordinar a um acordo de livre comércio tendo como mola-mestra os Estados Unidos".
O presidente disse ainda que os países desenvolvidos como os Estados Unidos e os da União Europeia deveriam olhar para a América do Sul para saber como o Mercosul foi construído. “Seria bom que eles olhassem para nós e vissem como nós conseguimos fazer do Mercosul um centro de desenvolvimento extraordinário".
Num recado às grandes nações, Lula também falou da importância dessa união existente entre os países do Mercosul. "A paz não tem preço e faremos qualquer coisa para que a paz permeie a ação de todos nós. Aqui não falamos em bomba nuclear ou guerras", afirmou.
Segundo Lula, os países da América do Sul mostraram sua força durante a crise econômica mundial, apresentando altas taxas de crescimento, e citou particularmente o caso dos países membros do Mercosul cujas taxas variaram entre 7,7%, do Brasil, até 9,7%, do Paraguai.
De acordo com o presidente, o que ocorreu nos países da América do Sul nos últimos anos é "um legado que é uma conquista" do povo e que, independentemente dos próximos presidentes, isso deve permanecer. "Qualquer que seja, o presidente que vier, e digo pela minha presidenta que vai tomar posse no dia 1º de janeiro: ela vai ser igual ou melhor do que qualquer um de nós aqui, porque ela tem, em sua origem, um sonho de conquista da democracia".
Em seu discurso, Lula anunciou que vai ser criado um fundo de investimento específico para apoiar as atividades da Cúpula do Mercosul e promover maior atividade social. O presidente também ressaltou a importância da Universidade de Integração Latino-Americano (Unila).
"Ela acabou de entrar em funcionamento bem aqui, em Foz do Iguaçu, em instalações cedidas pela Binacional Itaipu. Essa universidade reúne professores e alunos de toda a América Latina, dedicados a estudar os projetos de integração regional em seus mais variados aspectos", disse.
Morales defende indicação de Lula a secretário-geral da ONU
Outros líderes presentes na Cúpula do Mercosul comparam o mandatário brasileiro a Pelé e a "embaixador plenipotenciário no conserto deste mundo"
Morales entende que Lula merece o cargo por sua capacidade de persuadir
opositores e integrar os povos (Foto: Ricardo Stuckert. Presidência)
Publicado em 17/12/2010, 14:25
São Paulo – O presidente da Bolívia, Evo Morales, defendeu nesta sexta-feira (16) que o presidente Lula seja eleito secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) devido à capacidade de solução de conflitos e integração das nações. A declaração foi feita durante a Cúpula do Mercosul, que é realizada na cidade paranaense Foz do Iguaçu.
“O presidente Lula vem de lutas sociais e sindicais e demonstrou na América sua grande capacidade de cooperação aos demais povos com solidariedade e irmandade”, afirmou Morales.
O boliviano ponderou que Lula conseguiu, ao mesmo tempo, comandar a luta pelos pobres e assegurar o crescimento econômico do Brasil. “A gestão do presidente Lula foi excelente e repercutiu em toda a América Latina. Além disso, ele deixa o poder com uma popularidade superior a 90% entre seus compatriotas, o que provoca inveja em outros mandatários.”
Presente ao encontro, Lula apenas sorriu quando ouviu a proposta do líder vizinho. Mais tarde, em conversa com jornalistas, o presidente afirmou: "Eu só posso compreender a indicação como um gesto de cortesia do meu companheiro Evo Morales." Ele lembrou ainda que não é conveniente que se reivindique ou articule indicação para esse tipo de cargo.
"Acho que a ONU precisa ser dirigida por algum técnico competente, não pode ter um político forte, porque ele não pode ser maior do que os presidentes dos países”, avaliou Lula, sem falsa modéstia. “Posso contribuir sem ter cargo. Não preciso mais de cargo, preciso somente de motivação”, afirmou o presidente.
Os chefes de Estado sul-americanos deram as boas vindas à presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff. A argentina Cristina Kirchner afirmou que será bom ter mais uma mulher no poder. "Vai nos fazer muito bem incorporar uma companheira de gênero. Eu já me senti um pouco sozinha”, declarou, em um discurso que ressaltou a importância da participação feminina na vida política. "A esperamos com muito afeto e carinho e também com muito amor."
O encontro se encerrou com a transmissão da presidência do Mercosul para o Paraguai. No último semestre, o bloco foi presidido pelo Brasil. O ano chega ao fim sem a aprovação da entrada da Venezuela na união de países. Após duras discussões no Congresso brasileiro, o projeto sobre o ingresso da nação hoje presidida por Hugo Chávez esbarra na resistência de parlamentares paraguaios.
Pelé e 'plenipotenciário'
O presidente brasileiro foi aclamado ainda por outros líderes. "Lula é um homem imprescindível, não apenas na América Latina, mas no mundo", afirmou o presidente chileno, Sebastián Piñera. O chileno também usou a frase "fica Lula", numa referência aos pedidos de "fica Pelé" feitos pela torcida durante a partida de despedida do craque da seleção brasileira no Maracanã.
O presidente do Uruguai, José Mujica, chamou Lula de "embaixador plenipotenciário no conserto deste mundo". "Obrigado pelo que tem feito, obrigado pelo que tem que fazer", disse Mujica a Lula, visivelmente emocionado.
O presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, também se somou ao coro e disse que o presidente brasileiro é um "bem muito valioso" para se perder. O encontro em Foz do Iguaçu foi o último compromisso internacional de Lula, que encerra seu segundo mandato no dia 1o de janeiro, quando assume a presidente eleita Dilma Rousseff.
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