Lula, pediu uma oração para o vice-presidente José Alencar,
para que ele possa se restabelecer e cumprir o desejo de
participar pessoalmente da posse de Dilma no dia 1º.
O presidente pediu a todos os presentes que rezassem pela saúde do vice e enviassem “boas energias” para que ele se recupere o mais rápido possível.
- Se essa energia positiva que está aqui passar para o Zé Alencar, ele certamente vai se recuperar muito mais rápido. Acho que essa reza transmite toda a energia que queremos passar para ele.
Segundo lula, Alencar disse a ele que quer se recuperar a tempo de participar da posse de Dilma, quando ele e o presidente da República entregarão seus cargos.
- Ele só tem um desejo: poder sair do hospital no dia 1º para às 16h estar na posse da companheira Dilma em Brasília. E ele disse que vai de qualquer jeito nem que seja para descer [a rampa do Palácio do Planalto] de cadeira de rodas.
Do Blog do Planalto publicado em 23/12/2010.
Em mais um discurso marcado por emoção, o presidente Lula ressaltou o que ele define como o fator principal da melhoria de vida do brasileiro: o fortalecimento da autoestima do povo. Durante a cerimônia de celebração do Natal dos catadores e da população em situação de rua, realizada em São Paulo nesta quinta-feira (23/12), Lula parabenizou os catadores que “aprenderam a falar porque aprenderam a ter consciência, a andar de cabeça erguida; porque catar papel não pode ser vergonha, mas um orgulho por levar para casa o sustento com o trabalho”.
Com o sentimento de que fez muito, mas ainda não tudo, Lula diz deixar a Presidência a República com o objetivo de continuar lutando pelo povo mais pobre e visitando cada lixão que existir no País, pois o compromisso assumido por ele não foi de um presidente, mas sim “de um ser humano, de um brasileiro que sabe como vocês vivem e a importância de vocês têm”.
“Nós só iremos construir esse país verdadeiramente justo quando a gente olhar um para o outro e não ver diferença entre nós, a gente ver que nós, antes de sermos brasileiros, antes de sermos companheiros, nós somos irmão de caminhada, e vamos construir juntos uma vida melhor."
O presidente rebateu as críticas feitas pela imprensa no ano passado, quando sugeriu que eles fizessem “a matéria do ano” sobre os catadores de papel. Segundo Lula, ele foi acusado de querer ensinar os jornalistas a trabalharem quando, na verdade, ele apenas fez uma sugestão.
“Falo não para a imprensa, mas para a Dilma e para mim mesmo: o problema do Brasil é que muita gente continua agindo como agia há 20 anos, sem perceber que o Brasil mudou.”
Em seu discurso, Lula elogiou os prefeitos que fizeram convênios com os catadores de papel e pediu para os que ainda não aderiram a ação que o façam o mais rápido possível, para melhorar e fortalecer as cooperativas. Fez um pedido especial ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para “tratar o pessoal da Granja Julieta com carinho”, estabelecendo o convênio como prometido em 2009.
Disse, ainda, que “morador de rua não é nem um caso perdido nem um caso de polícia, é um caso de amor, é um caso de paixão e é um caso de políticas públicas, em vez de achar que tudo se trata com cacetete."
Este é o oitavo Natal dos Catadores com o presidente Lula, que participa do evento desde 2003, apresentando o balanço das ações do governo federal e anunciando programas e políticas públicas.
Participam do evento representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e do Povo de Rua, da Pastoral de Rua, da Igreja Católica, entre outros.
Participam do evento representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e do Povo de Rua, da Pastoral de Rua, da Igreja Católica, entre outros.
LEIA ABAIXO A ÍNTEGRA DO DISCURSO DO LULA
Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de celebração do Natal dos catadores e da população em situação de rua
São Paulo-SP, 23 de dezembro de 2010
Agora, eu vou fazer o discurso, mas antes de eu fazer o discurso ainda, é o seguinte. E eu a Dilma, antes de chegarmos aqui, nós fomos visitar o companheiro Zé Alencar. O companheiro Zé Alencar, ontem, ele passou mal, teve... perdeu três quilos [litros] de sangue e foi operado ontem à noite. Eu e a Dilma fomos lá vê-lo, e eu queria pedir, Júlio, que você, aqui... que a gente pudesse... como aqui ninguém é médico e ninguém faz milagre, que a gente rezasse um Pai-Nosso aqui para o nosso Zé Alencar.
Padre Júlio: Todos em pé, oremos, pelo nosso vice-presidente, José Alencar, pela sua saúde, a oração que o Senhor nos ensinou, na sua forma ecumênica.
Presidente: Olha, se essa energia positiva que está aqui passar para o Zé Alencar, certamente que ele vai se recuperar muito mais rápido, e ele só tem um desejo: é poder sair do hospital, no dia 1º, para, às 4h da tarde, ele estar na posse da companheira Dilma lá em Brasília. Ele disse que vai de qualquer jeito, vai de qualquer jeito. Nem que seja para descer de cadeira de rodas, ele quer estar na posse da Dilma, no dia 1º de janeiro, e eu acho que esta “reza” aqui transmite toda a energia que nós queremos passar para ele.
A segunda coisa é o seguinte: aqui não precisaria ninguém fazer discurso. Era só essa fotografia com... a minha foto, a da Dilma e vocês aqui, para a gente notar que alguma coisa mudou neste país. Quando é que se imaginou que o presidente do BNDES viria a uma reunião com catadores de papel assinar financiamento para catadores de papel? Jamais isso foi pensado neste país. Quando é que a gente já imaginou o presidente do Banco do Brasil vir a uma reunião com os catadores de papel assinar acordo? Essa quantidade de ministros aqui, a Fundação Banco do Brasil, dois presidentes de uma vez só – um “sainte” e um entrante – os dois... Isso... dizer que o Brasil não mudou é não enxergar esta foto.
Eu vou começar dizendo uma coisa para vocês. No ano passado, quando nós nos encontramos, eu tinha pedido... eu olhei para os companheiros da imprensa, e eu tinha pedido para os jornalistas fazerem a matéria do ano deles e, que, ao terminar a atividade, cada um pudesse escolher um catador de papel ou um morador de rua e fazer entrevista. Quem estava aqui se lembra que eu falei exatamente isso. Para minha surpresa, no outro dia, eu li no jornal, e disseram que eu fiz crítica à imprensa. Em vez de dizer que eu tinha feito uma sugestão, ainda tiveram alguns que falaram: “Ele queria ensinar a gente a fazer jornalismo”.
Eu vou contar uma coisa, não para a imprensa agora, mas para a Dilma e para mim mesmo. Você sabe qual é o problema do Brasil? É que muita gente continua agindo como agia há 20 anos, sem se dar conta que o mundo mudou.
É só olhar o discurso das pessoas que falaram aqui. Essas pessoas, pouco tempo atrás, jamais imaginaram estarem sentadas ao lado de uma presidenta da República, jamais, jamais imaginaram. Essas pessoas aprenderam a falar, porque aprenderam a ter consciência, aprenderam a entender que também têm os seus direitos, aprenderam a andar de cabeça erguida, porque catar papel não pode mais ser vergonha. É orgulho levar para casa o sustento com o trabalho. Um morador de rua não é nem um caso perdido e nem um caso de polícia. É um caso de amor, é um caso de paixão e é um caso de políticas públicas, em vez de achar que tudo se trata com cacetete.
Eu quero dar os parabéns aos prefeitos que receberam o prêmio aqui e fazer uma crítica aos prefeitos que ainda não concordaram com o Decreto e não fizeram convênio com os catadores de papel. Eu estou vendo ali uma placa da Granja Julieta. Eu lembro que, da outra vez que eu vim aqui, da outra vez que eu vim aqui, eu pedi para o Kassab, ele assumiu o compromisso. Portanto, eu quero aqui, do microfone – eu sei que ele está ouvindo ou ele vai ler o que vocês vão escrever –, [dizer] ao companheiro Kassab [para] tratar o pessoal da Granja Julieta com carinho, Kassab, pelo amor de Deus. E aos outros prefeitos que ainda não fizeram convênio, que façam.
Nós estamos possibilitando, com os convênios, que aconteça, na vida de todas as pessoas, o que aconteceu com esta menina, que nasceu e que foi criada dentro de um “lixão”. O que nós queremos é apenas que as pessoas respeitem vocês. Nós não estamos pedindo favor. Nós estamos apenas criando direitos para vocês. E tem mais um direito, Gilberto, que eu não estou assinando hoje, Dilma, mas vou assinar, acho que na semana que vem – que é a medida provisória 4 e não sei das quantas lá – uma medida provisória que a gente dá um incentivo para o empregador que comprar o material reciclado dos catadores de papel. Ele vai ter uma motivação para comprar o papel deles, para poder facilitar mais a vida deles. Eu iria assinar, mas tinha cinco vetos. Vocês sabem que o Guidinho e o Paulinho Bernardo pedem sempre um vetinho. Tinha cinco coisas para vetar. Como o Beto não tinha estudado, eu não trouxe para assinar. Vou assinar na semana que vem. Mas vamos garantir para vocês mais esse direito.
Depois, é o seguinte, gente. Eu queria dizer para vocês o seguinte. Olhe, é com muito orgulho, mas com muito orgulho, que eu termino o meu mandato – dia 23 de dezembro, antevéspera do Natal – junto com vocês, do mesmo jeito que eu comecei em dezembro de 2003 junto com vocês. O que eu sinto é que, pelo menos, a direção de vocês está mais gordinha, mais rechonchuda. Está aqui, ó, o cara parece... Dá uma olhada: vê se o cara parece presidente de cooperativa. O cara parece mais um surfista. O cara parece mais um pegador de onda do que um chefe de cooperativa.
Gente, eu sei que nós ainda não fizemos tudo e é bom que a gente não faça tudo de uma vez, porque seria fácil ter mandado uma lei para o Congresso Nacional, e aprovar uma série de coisas de uma vez. Não dá certo. O que dá certo é a gente ir maturando e conquistando cada coisa, porque essas cooperativas só funcionam quando existe um estalo de consciência e as pessoas percebem que devem se organizar. Se a gente tentasse criar por decreto, não criaria e não funcionaria.
Portanto, vocês estejam certos de que esta companheira Presidenta que foi eleita, ela vai tratar vocês com carinho, igual à mãe de vocês, ela vai tratar vocês com respeito, e podem ficar certos de que vocês vão continuar tendo avanços, porque a Dilma tem compromisso com vocês. Ela, certamente, vai visitar vocês outra vez, vai conversar com vocês e vai aprimorando a vida de vocês.
Por último, eu queria agradecer aos companheiros que vieram de longe, viu, Dilma. Aqui tem gente que veio de ônibus – três dias de ônibus – e vão voltar, vão passar o Natal na estrada. Tem gente que vai passar o Natal na estrada.
Portanto, meus queridos companheiros, eu quero, do fundo do coração, eu quero, do fundo do coração, agradecer o carinho que vocês tiveram comigo. Eu fico meio nervoso ainda, Dilma, porque nós criamos o Brasil Sorridente, e eu quero que você veja uma coisa. Isto aqui, você precisa pegar no pé do seu próximo ministro da Saúde. Eu não me conformo... é o seguinte. Dá uma olhada nesta companheira aqui. Ela está sem dente, está vendo? Nós criamos o Brasil Sorridente exatamente para cuidar das pessoas pobres e tem muitas, tem muitas... mas estão no centro da cidade. Então... Você é de onde? É de Fortaleza. A prefeita... Lá tem Brasil Sorridente, lá tem Brasil Sorridente. Você poderia procurar, para cuidar... é de graça, é de graça, não paga nada! Mas depois eu quero que você deixe um telefone para o Gilberto Carvalho aqui, porque nós vamos cuidar disso, cuidar para você poder, para você... Nós vamos cuidar disso. O Gilberto vai pegar.
Então, eu queria, eu queria dar os parabéns aos companheiros que vieram de longe, que vieram de ônibus, que vão passar o Natal na estrada, e dizer para vocês o seguinte: olha, eu estou apenas deixando a Presidência da República, mas, se Deus quiser - e vocês me convidarem - o Natal do ano que vem eu estarei aqui com vocês outra vez. Eu vou combinar com a direção, quando eu for a alguns estados, eu vou querer visitar o “lixão”. Onde estiver funcionando um “lixão”, eu quero visitar.
Mas eu quero dizer para vocês que o compromisso, o compromisso meu com vocês não é por que eu era presidente, não. É um compromisso de um ser humano, de um brasileiro que sabe como é que vocês vivem e que sabe a importância que vocês têm. Eu quero dizer para vocês que, se um dia, alguém perguntar para mim do que eu me orgulho muito, eu vou dizer que eu me orgulho de ter tratado vocês com o mesmo respeito que eu trato todo mundo. Vocês entraram no Palácio do Planalto como entra um empresário, como entra um presidente, e eu quero abraçar e beijar vocês como qualquer outra pessoa deste país.
Nós só iremos construir este país, verdadeiramente justo, quando a gente olhar um para o outro e a gente não ver diferença entre nós. A gente ver que nós, antes de sermos brasileiros, antes de sermos companheiros, nós somos irmãos de caminhada, irmãos de luta, e vamos construir juntos uma vida melhor para todos vocês.
Eu quero que vocês saibam, quero que vocês saibam que esta turma que está aqui – alguns vão continuar no governo, outros não – mas esta turma que está aqui vai continuar trabalhando com vocês, esteja a gente onde estiver e estejam vocês onde vocês estiverem. Eu tenho certeza que a companheira Dilma tem, em vocês, motivo de orgulho, motivo de orgulho do avanço, do carinho, e, em vez de vocês me agradecerem, em vez de vocês se curvarem para mim, eu vou agradecer vocês me curvando, porque vocês nos ensinaram a governar este país.
Um grande abraço, que Deus abençoe. Aqui, eu quero cumprimentar também a delegação de estrangeiros. Parece que tem gente da Colômbia, tem gente da Argentina, tem gente do Peru, África do Sul, Chile e Costa Rica.
Um abraço a todos vocês. Feliz Natal, feliz Ano Novo, e até o ano que vem, se Deus quiser.
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